quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Onças do Parque Nacional do Iguaçu podem ser extintas em até 80 anos

A onça Naipi, fêmea de dois anos, vive na área turística do Parque Nacional do Iguaçu (Foto: Projeto Carnívoros do Iguaçu / Divulgação)
A onça Naipi, fêmea de dois anos, vive na área turística do Parque Nacional do Iguaçu (Foto: Projeto Carnívoros do Iguaçu / Divulgação)
A quantidade de onças-pintadas no Parque Nacional do Iguaçu (PNI) pode desaparecer em até 80 anos, calculam os especialistas que atuam no projeto Carnívoros do Iguaçu. Os estudos apontam que em 15 anos o número de animais da espécie Phantera onca foi reduzido de 164, estimados em 1995, para 18, conforme cálculos feitos em 2010. Falta de investimentos em estrutura e fiscalização, caça predatória e a possibilidade de reabertura da Estrada do Colono são algumas das ameaças à manutenção da espécie da reserva.
Segundo a coordenadora do projeto, Marina Xavier da Silva, o PNI, no oeste do Paraná, é o último habitat natural da onça-pintada no Sul do país. “Por isso a importância das ações que estão sendo desenvolvidas para que a espécie não seja extinta na região. O local mais próximo daqui com registro de onças é o litoral de São Paulo e do Rio de Janeiro, além do Pantanal”, comentou a bióloga ao alertar que a perda de um grande predador pode levar ao desaparecimento também do ambiente daquela área.
Atualmente apenas um animal vem sendo monitorado na unidade de conservação, que também é considerada um dos últimos redutos de Mata Atlântica no Paraná. Uma fêmea de pouco mais de dois anos, batizada de "Naipi", vive na área turística da reserva e é constantemente vista nas proximidades do hotel e do Macuco Safári. Na mesma região, um macho morreu em março de 2009 depois de ter sido supostamente atropelado no interior do parque, na rodovia de acesso às Cataratas do Iguaçu. O processo que investigava o crime foi arquivado.
Um dos sinais mais evidentes de que o número de onças-pintadas vem diminuindo drasticamente é o desaparecimento de animais que servem de alimentação para os felinos. As cerca de 70 armadilhas fotográficas espalhadas pelo parque há muito não registram espécies como a queixada e os veados. “Estes e outros animais, como o tatu e o porco do mato também são os animais preferidos pelos caçadores. Sem comida, as onças tendem a deixar a reserva e atacar animais domésticos e de criação.”
O macho Sancho foi visto pela última vez em maio de 2012, em Santa Tereza do Oeste (Foto: Projeto Carnívoros do Iguaçu / Divulgação)O macho Sancho foi visto pela última vez em maio de 2012
(Foto: Projeto Carnívoros do Iguaçu / Divulgação)
Este pode ter sido o motivo do desaparecimento do macho de quatro anos, batizado de "Sancho", que chegou a ser monitorado pelos especialistas por cerca de seis meses até o sinal da coleira que havia sido colocada do animal desaparecer. “Não temos mais nenhum registro desde outubro de 2012. São duas hipóteses para a explicação: ou a bateria do aparelho acabou ou ele já não está mais vivo”, aponta a bióloga Marina, que cuida do projeto com o auxílio de um ajudante.
O monitoramento indicava que Sancho vivia em uma área de 900 km² na região norte da reserva. “É uma área muito grande. E este é outro sinal de que existem poucas onças no parque. Sem a concorrência de outro animal, ele vinha andando livremente, sem precisar ter que disputar terreno”, observa. O animal foi visto pela última vez em maio de 2012, depois de atacar outros animais em propriedades rurais de Santa Tereza do Oeste. Ele foi capturado pelos técnicos, analisado e solto na reserva.
Futuro
A ação de caçadores e o abate por retaliação – quando o animal é morto por se aproximar e atacar pessoas e criações – estão entre as maiores preocupações dos especialistas. No início de 2012, uma onça-pintada foi morta por caçadores no lado argentino do parque. Um dos objetivos do projeto, reforça, é conscientizar e estimular as pessoas a comunicar os órgãos

O projeto Carnívoros do Iguaçu foi retomado em 2009 e é mantido por recursos repassados pela Oriente Express, empresa que administra o Hotel das Cataratas. O investimento de R$ 1,4 milhão é uma das contrapartidas exigidas da vencedora da licitação para a exploração do serviço de hospedagem no PNI. “Este dinheiro que era para ser aplicado até meados de 2014 já está acabando e ainda não há previsão de novos recursos, o que também ameaça a continuidade dos trabalhos.”
A reabertura da Estrada do Colono, via de 17 km que cortava a unidade de conservação entre Serranópolis do Iguaçu, no oeste, e Capanema, no sudoeste do Paraná, é outra preocupação dos ambientalistas. Um projeto do deputado federal Assis do Couro (PT-PR) propõe a criação de uma estrada-parque no mesmo trajeto fechado por ordem judicial desde 2003. Durante o Fórum Mundial do Meio Ambiente, em Foz do Iguaçu, a ministra Izabella Teixeira declarou ser contrária ao projeto de lei 7123/2010.
Fabiula WurmeisterDo G1 PR, em Foz do Iguaçu

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